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PRA QUEM AMA E ACREDITA, MURITIBA.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

MUSEU VIRTUAL DE MURITIBA

DUAS SITUAÇÕES

Duas Situações Interessantes: Quando o pensamento anda mais rápido que a língua, e quando a língua anda mais rápido que o pensamento! Qual é o pior? O pior é quando o pensamento e a linguagem andam na mesma marcha. Aí começa o tédio!...

Sobre o autor: Jean Baudrillard foi um sociólogo e filósofo francês. Suas teorias, vão contra o discurso da "verdade absoluta" e contribuem para o questionamento da situação de dominação imposta pelos complexos e contemporâneos sistemas de signos. 

o discurso do índio Guaicaipuro Cuatémoc

A VERDADEIRA DÍVIDA EXTERNA
“Aqui estou eu, descendente dos que povoaram a América há 40 mil anos, para encontrar os que a encontraram só há 500 anos.
O irmão europeu da aduana me pediu um papel escrito, um visto, para poder descobrir os que me descobriram. O irmão financista europeu me pede o pagamento, com juros, de uma divida contraída por um Judas, a quem nunca autorizei que me vendesse.
Outro irmão europeu, um rábula, me explica que toda dívida se paga com juros, mesmo que para isso sejam vendidos seres humanos e países inteiros sem pedir-lhes consentimento.
Eu também posso reclamar pagamento, também posso reclamar juros.
Consta no Arquivo das Índias. Papel sobre papel, recibo sobre recibo, assinatura sobre assinatura que somente entre os anos 1503 e 1660 chegaram a São Lucas de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata provenientes da América
Terá sido isso um saque?
Não acredito porque seria pensar que os irmãos cristãos faltaram ao Sétimo Mandamento!
Teria sido espoliação? Guarda-me Tanatzin de me convencer que os europeus, como Caim, matam e negam o sangue do irmão
Teria sido genocídio? Isso seria dar crédito aos caluniadores, como Bartolomeu de Las Casas que qualificam o encontro de “destruição da Índias” ou Arturo Uslar Pietri, que afirma que a arrancada do capitalismo e a atual civilização européia se devem à inundação de metais preciosos retirados das Américas!
Não, esses 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata foram o primeiro de outros empréstimos amigáveis da América destinados ao desenvolvimento da Europa. O contrário disso seria presumir a a existência de crimes de guerra, o que daria direito a exigir não apenas a devolução, mas indenização por perdas e danos.
Eu, Guaicaipuro Cuatémoc, prefiro pensar na hipótese menos ofensiva.
Tão fabulosa exportação de capitais não foi mais do que o início de um plano “Marshal-tezuma”, para garantir a reconstrução da Europa arruinada por suas deploráveis guerras contra os muçulmanos, criadores da álgebra, da poligamia, do banho diário e outras conquistas da civilização.
Por isso, ao celebrarmos o Quinto Centenário desse Empréstimo, poderemos nos perguntar: Os irmãos europeus fizeram uso racional, responsável ou pelo menos produtivo desses recursos tão generosamente adiantados pelo Fundo Indo-americano Internacional?
É com pesar que dizemos não.
No aspecto estratégico, o dilapidaram nas batalhas de Lepanto, em armadas invencíveis, em terceiros reichs e outras formas de extermínio mútuo, sem um outro destino a não ser terminar ocupados pelas tropas gringas da OTAN, como um Panamá, mas sem o canal.
No aspecto financeiro foram incapazes, depois de uma moratória de 500 anos, tanto de amortizar o capital e seus juros, quanto se tornarem independentes das rendas liquidas, das matérias primas e da energia barata que lhes exporta e provê todo o Terceiro Mundo.
Este quadro corrobora a afirmação de Milton Friedman, segundo a qual uma economia subsidiada jamais pode funcionar. E nos obriga a reclamar-lhes, para o seu próprio bem, o pagamento do capital e dos juros que, tão generosamente temos demorado todos estes séculos para cobrar.
Ao dizer isto, esclarecemos que não nos rebaixaremos a cobrar de nossos irmãos europeus, as mesmas vis e sanguinárias taxas de 20% e até 30% de juros que os irmãos europeus cobram aos povos do Terceiro Mundo. Nos limitaremos a exigir a devolução dos metais preciosos emprestados, acrescidos de um módico juro fixo de 10%, acumulado apenas durante os últimos 300 anos.
Sobre esta base, e aplicando a fórmula européia de juros compostos, informamos aos descobridores que eles nos devem 180 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambas as cifras elevadas à potência de 300. Isso quer dizer um número para cuja expressão total seriam precisos mais de 300 cifras, e que supera amplamente o peso total do planeta Terra.
Muito peso em ouro e prata! Quanto pesariam calculados em sangue?
Admitir que a Europa, em meio milênio, não conseguiu gerar riquezas suficientes para pagar esses módicos juros seria como admitir seu absoluto fracasso financeiro e/ou a demêncial irracionalidade dos pressupostos do capitalismo.
Tais questões metafísicas, desde já, não nos inquietam aos índo-americanos.
Porém exigimos a assinatura de uma carta de intenções que discipline aos povos devedores do Velho Continentes e que os obrigue a cumpri-la, sob pena de uma privatização ou conversão da Europa, de forma que lhes permita nos entregá-la inteira como primeira prestação da dívida histórica.”

ESQUECE O FUTURO

Esquece o futuro...
Autor: Montaigne
Esquece o futuro. Ele não te pertence. O presente te basta. Mas é preciso ser rápido quando ele é mau presente, e andar devagar quando se trata de saboreá-lo. Expressões como “passar o tempo” espelham bem a maneira de viver dessa gente prudente, que imagina não haver coisa  melhor para fazer da vida. Deixam passar o presente, esquivam-se, ignoram o presente, como se estar vivo fosse coisa desprezível.
A natureza nos deu a vida em condições tão favoráveis, que só mesmo por nossa culpa ela poderá se tornar pesada e inútil.

COMO LAVAR AS PALAVRAS SUJAS

Mergulhar a palavra suja em água sanitária. Depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.
Algumas palavras quando alvejadas ao sol adquirem consistência de certeza. Por exemplo, a palavra vida.
Existem outras - e a palavra amor é uma delas - que são muito encardidas pelo uso, o que recomenda esfregar e bater insistentemente na pedra, depois enxaguar em água corrente. São poucas as que resistem a esses cuidados, mas existem aquelas.
Dizem que limão e sal tiram sujeira difícil, mas nada. Toda tentativa de lavar a piedade foi sempre em vão. Agora nunca vi palavra tão suja como perda. Perda e morte, na medida em que são alvejadas, soltam um líquido corrosivo, que atende pelo nome de amargura, que é capaz de esvaziar o vigor da língua. O aconselhado nesse caso é mantê-las sempre de molho em um amaciante de boa qualidade. Agora, se o que você quer é somente aliviar as palavras do uso diário, pode usar simplesmente sabão em pó e máquina de lavar. O perigo neste caso é misturar palavras que mancham no contato umas com as outras. Culpa, por exemplo. A culpa mancha tudo que encontra e deve ser sempre alvejada sozinha.outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo, já que desejo, sendo uma palavra intensa, quase agressiva, pode, o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade. Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.outro cuidado importante é não lavar demais as palavras. Sob o risco de perderem o sentido. A sujeirinha cotidiana, quando não é excessiva, produz uma oleosidade que dá vigor aos sons. Muito importante na arte de lavar palavras é saber reconhecer uma palavra limpa. Conviva com a palavra durante alguns dias. Deixe que se misture em seus gestos, que passeie pela expressão dos seus sentidos. À noite, permita que se deite, não a seu lado mas sobre seu corpo. Enquanto você dorme, a palavra, plantada em sua carne, prolifera em toda sua possibilidade. Se puder suportar essa convivência até não mais perceber a presença dela, então você tem uma palavra limpa.
Uma palavra limpa é uma palavra possível.

Sobre o Autor: Capixaba, radicada no Rio desde 1992, Viviane Mosé é psicóloga e psicanalista. Especialista em "Elaboração e implementação de políticas públicas" pela Universidade Federal do Espírito Santo e Mestra e Doutora em filosofia.

A VELHA HOLLIWOOD

A velha Hollywood nos ensinou que tudo nos EUA era maior, melhor, mais limpo, justo, ético, honesto, adulto, moderno, eficiente e perfeito do que nos outros países. Também pudera -os americanos eram o povo mais bonito, forte, corajoso, engenhoso e talentoso do mundo. Onde mais as pessoas saíam cantando e dançando pelas ruas com naturalidade e ao som de uma enorme orquestra invisível?

E quem cavalgava melhor e tinha os cavalos mais velozes? O cowboy americano. Não havia índio ou mexicano que o capturasse, exceto à traição, coisa que, aliás, eles viviam fazendo (e de que o cowboy americano era incapaz). O mesmo se aplicava ao soldado americano em relação aos alemães e japoneses -quem era o mais heroico, o mais desprendido, o mais inteligente? E a Marinha americana? Quem tinha porta-aviões mais imponentes? Quem usava camisas de manga curta mais brancas? E quem mais tinha milhares de marinheiros que sabiam sapatear?

Nos filmes, víamos maravilhas que faziam parte do dia a dia dos americanos e de ninguém mais: cerveja em lata, barbeadores elétricos, cortadores de grama, trevos rodoviários (filmados de avião), edifícios de 90 andares e naves que iam à Lua e voltavam. E quem seria mais poderoso que o governo dos EUA, capaz de movimentar estruturas gigantescas para plantar um exército inteiro em território inimigo a 15 mil km e resgatar um espião a minutos de ser descoberto?

Todas essas eram benesses do poder e da riqueza. De repente, fico sabendo que o dinheiro no caixa do Tesouro americano vai acabar na terça-feira e que a Casa Branca, com uma dívida de US$ 14,3 trilhões, ameaça dar o beiço no mundo.

Inacreditável. Como pode o governo americano quebrar? Se acontecer, quem vai pagar a conta da lavanderia que mantinha as camisas tão brancas? 

Sobre o Autor: Rui Castro é Escritor, Biografo e colunista da Band News Fm e da Folha de São Paulo.

NÓS, NÓS NÃO TEMOS HERÓIS:

NÓS, NÓS NÃO TEMOS HERÓIS:
Nós, nós não temos heróis
nem jamais os tivemos.
Afinal, para que servem os heróis e suas estátuas de granito ou de mármore negro, seus cavalos de bronze, suas medalhas barrocas e as espadas que não passam de metáforas?
Para que servem os heróis se o ácido da chuva desdenha da glória dos homens e nem os pássaros se importam com eles?
Para que servem os heróis se nem sabem quem somos nem jamais ouviram falar dos nossos mitos e utopias?
Infeliz do país que necessita de heróis. 

Sobre o autor:
O poeta cearense Francisco Carvalho permanece desconhecido embora tenha publicado quase trinta livros. Em 1982 recebeu o Prêmio Nestlé de Literatura. Em 2004 foi publicada uma antologia do autor com 500 páginas, já esgotada nas livrarias.

TUDO MUDOU

Tudo mudou. Homens, coisas e animais mudaram de lã ou de pele. As palavras já não são as mesmas do tempo em que estudávamos gramática com os olhos míopes das professoras. Nádegas e pernas das mestras -- objeto direto do nosso desejo -- ofuscavam o interesse pela didática. Olho o mundo de todos os ângulos possíveis e tudo me parece oblíquo. É a civilização globalizada, a cultura de massa, a sagração do factóide, a fragmentação dos idiomas. Corta-se a palavra em frações microscópicas. A vida, o amor, a morte, a realidade:
tudo agora virou fast food.

Sobre o autor:
Cearense, Francisco Carvalho nasceu em 1927 em São Bernardo das Russas, interior do Ceará. Poeta e ensaísta, é conhecido por seu valor literário e reverenciado pelos mais diversos críticos do país.

O SONHO NÃO PODE DURAR UMA NOITE

Um camarada trabalhava há 30 anos numa fábrica, ele saía da fábrica todo dia para encontrar os amigos, ir ao cinema, encontrar mulheres... Ia pra casa. Fazia isso todo dia.
Há 30 anos...

Um dia ele faz tudo isso, chega em casa, dorme e tem um sonho. Acordou, não ligou e foi trabalhar, fez tudo o que tinha para fazer, voltou, foi pra casa, dormiu e teve o mesmo sonho.

Era uma nebulosa que estava se transformando num coração e ele queria ver até onde ia esse coração...

A formação de um peito juvenil... Ele acordou. Foi trabalhar. Já não conversou tanto com as pessoas quando saiu do emprego pra ir pra casa. Dormiu e sonhou o mesmo sonho.

Então aparece o peito de um rapaz, a perna de um rapaz o braço de um rapaz... Ele acordou. Foi trabalhar... Saiu correndo do emprego pra chegar em casa e dormir... O sonho continuava, tinha o sexo de um rapaz, a cara de um rapaz.. Ele acordou.

Foi trabalhar, pediu pra sair mais cedo, era um grande funcionário, permitiram, foi correndo pra casa... ai o garoto falou e ele acordou.

Foi trabalhar e pediu pra trabalhar só de manha. Começou a conversar com o rapaz... Então pediu demissão da fábrica pra só dormir e sonhar.. E ficou mostrando as ruas e as mulheres... pro rapaz... Até que um dia o rapaz falou assim:

- "Eu tenho uma namorada, você sabe, eu fui a casa dos pais dela me aceitaram como noivo dela e querem que eu case com ela, mas eles querem conhecer minha família...você pode me dizer quem é a minha família?".

No sonho ele disse:

- Pra dizer quem é a sua família eu vou ter que acordar e procurar saber qual é a minha...

Acordou e começou a procurar... Foi ai que ele percebeu que ele próprio também era o sonho de um outro."

Sobre o autor: 

Jorge Luis Borges, escritor, poeta, tradutor, crítico e ensaísta argentino, mundialmente conhecido por seus contos e histórias curtas. Nas suas narrativas figuram os "delírios do racional", abordando temática como filosofia, metafísica, teologia e mitologia.