museuvirtualmuritiba@gmail.com MUSEU VIRTUAL DE MURITIBA.: HOMENAGEM 100 ANOS DE JORGE AMADO expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

PRA QUEM AMA E ACREDITA, MURITIBA.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

HOMENAGEM 100 ANOS DE JORGE AMADO

Casa de Cultura Jorge Amado

MUSEU VIRTUAL DE MURITIBA. 

Através de sua obra conhecida no mundo inteiro, o escritor Jorge Amado divulgou e imortalizou as belezas e as histórias de Ilhéus. Para agradecer ao “filho adotivo” (Amado nasceu na vizinha Itabuna), a cidade prestou-lhe uma homenagem à altura de seu talento, transformando sua antiga residência na Casa de Cultura Jorge Amado. Construído pelo pai do escritor em 1928, o palacete em estilo neoclássico ocupa uma área de 600 metros quadrados, com cinco metros de pé direito, piso de jacarandá e azulejos ingleses na varanda. Inaugurada em 1988, a Casa de Cultura abriga em seus grandes salões a Fundação Cultural, a Academia de Letras e o Instituto Histórico de Ilhéus. As visitas guiadas conduzem ao quarto do escritor, onde estão expostas as capas de edições de sua obra, fotos antigas e objetos pessoais.


                                                       CAETANO SAMANGO E JORGE
                                        JORGE, GONZAGA,JOBIM, CAETANO E CHICO





JORGE CARIBÉ E CAYMMI


Gilberto Freyre, Anísio Teixeira e Jorge Amado (1961)


                                                    OLHA A JACA DE ILHÉUS
                                Quantas pessoas especiais já visitaram a Casa do Rio Vermelho? 
                                           Nesta foto, no banco de azulejos, sob a mangueira estão Jorge,
                                            Zelia Di Cavalcanti e Vinicius.
                                                            Acervo: Zélia Gattai
                                      Acervo: Zélia Gattai.

Crônica de domingo, 9 de março de 2014: Viagem a Paulo Afonso
Centenário de Caymmi, crônica III
Fizemos uma viagem adorável com Caymmi pelo São Francisco. Foi em 1967, quando o editor Alfred Knopf veio ao Brasil em lua de mel. No roteiro do casal, uns dias na Bahia para apresentar a cidade a Helen, buscar Jorge e Caymmi, velhos amigos, para juntos conhecerem a Cachoeira de Paulo Afonso.
-- Norminha, tem lugar no carro, vai ser uma delícia. Vão Caymmi e Paloma também.
Era mamãe convidando Norma Sampaio para integrar a caravana. Baiano adora andar em grupo, já dizia Calasans Neto!
Antes da partida, um almoço reuniu meia Salvador para festejar o editor americano que já passeara e fotografara a cidade toda. Vendo as fotos tiradas por mamãe que ilustram esta crônica, me dou conta do quanto a Bahia mudou nestes quarenta e seis anos... Quarenta e seis!, afemaria! Como o Pelourinho estava destruído... Aquele casarão caindo aos pedaços é a atual Fundação Casa de Jorge Amado, quem diria?
Rumamos para a cidade de Delmiro Gouveia, nas Alagoas, de carro -- uma veraneio em que cabia nós cinco e mais o motorista com folga. Os Knopf foram de avião comercial até Recife e de lá, de teco-teco, seguiram para nos encontrar no Sertão.
-- Caymmi, nosso Knopf é um louco em se meter em tanto aviãozinho! Podendo ir confortavelmente de carro... Disse que está muito velho para longos caminhos em estrada brasileira..., dizia papai, que tinha medo pânico de avião, e gostava de provocar mamãe, que nasceu para voar.
-- Confortavelmente? E esse calor medonho? Isso que nós ainda não saímos da estrada de asfalto para a de terra..., ela se metia na conversa, pegando corda.
Ao passar pela entrada de Santo Amaro, uma placa na beira da estrada anunciava caldo de cana. Caymmi se animou.
-- O calor está grande mesmo, um caldinho de cana ia bem...
Não houve tempo de parar e não pareceu mais caldo de cana nem na ida e nem na volta. "E o meu caldo de cana?", repetido muitas vezes durante a viagem, virou código nosso ao longo da vida.
Em tempos de carro sem ar condicionado, calor com poeira rimam com janela aberta e Caymmi louro! Ele fazia uns olhares divertidos e dizia:
-- Estou loirinho! Haja poeira!, e ria.
Os dias de Paulo Afonso foram maravilhosos, muitas coisas novas para todos, emoções inacreditáveis, como o vôo de teco-teco que fizemos, Knopf e eu (os demais declinaram do convite, mesmo dona Zélia, a destemida amiga das alturas). Disseram ao piloto que o americano queria ver a Cachoeira de pertinho e o rapaz levou ao pé da letra. A cada razante tínhamos a sensação de que a água ia pegar a asa do avião e nos levar Paulo Afonso abaixo. Enquanto eu morria de rir, pois com quinze anos a gente é inteiramente inconsequente, o pobre do velhinho ficava verde e parecia morrer de fato. Salvamo-nos todos a tempo de ver uma cerimônia religiosa da população local, creio que um sincretismo de pajelança e macumba, onde as pessoas se flagelavam com urtigas, coisa esquisita, ruim de se olhar. Felizmente foi rápido, a função terminou e o "pajé" foi se chegando aos homens:
-- Messê quequê fudelequê?
Perguntou para Knopf, que não entendeu nada. Depois foi para Caymmi.
-- Messê quequê fudelequê?
Então Caymmi se virou para papai, e com cara divertida disse:
-- Compadre, esse cara é pajé de araque. O que ele é mesmo é cafetão e tá querendo arranjar mulher pra gente. Vamos dando o fora antes que a comadre Zélia perca a paciência. Não é mesmo, comadre?
Nos despedimos do casal Knopf em Paulo Afonso, voltavam para New York via Rio. Na estrada de volta para casa, entre um pedido e outro de caldo de cana, o loiro Caymmi, comentava:
-- E seu Quequê, heim?
Bom domingo a todos. O meu será ótimo, festejando os 10 anos de meu neto Nicolau. Viva ele!
Crônica de domingo, 23 de fevereiro de 2013: Caymmi e o rádio russo
Centenário de Caymmi, crônica II
Salvador era bem diferente naqueles anos 60 de minha adolescência. A Avenida Manoel Dias, hoje via de trânsito intenso, cheia de bancos e lojas, era rua aprazível, de piso de terra, cheia de casas de veraneio e prédios pequenos de três andares. Num desses, bem no comecinho da Pituba, quase fronteira com Amaralina, moraram por uns tempos Stella e Caymmi. Já não lembro se vieram para passar o ano, se decidiram mudar de vez, ou se apenas veranearam. O certo é que para nós foi um grande acontecimento, era um ir e vir intenso entre a rua Alagoinhas e a avenida Manuel Dias.
Caymmi se queixou da falta de um aparelho de som, quer dizer de uma electrola (pronuncia-se é-lé-qui-tro-la, em bom baianês), ou pelo menos um rádio. Papai, comandante primeiro e único da vida dos amigos e parentes, resolveu imediatamente a questão:
-- Paloma, minha filha, empresta para seu tio o rádio russo.
Antes de continuar, preciso explicar como surgiu este aparelho em minha vida. Toda a vez que meus pais íam à Rússia, encontravam lá os rublos relativos aos direitos autorais, que não eram conversíveis em outra moeda, devendo ser gastos ali mesmo. Escritor de muito público em toda a União Soviética, há muito não ía a Moscou. Quando ali aterrissou em companhia de mamãe e Norma Sampaio -- mãe de Maria, minha amiga querida, de quem falo tanto --, encontrou um dinheirão à sua espera. Tratou de gastá-lo comprando presentes para deusetodomundo. Esse era o jeito dele, presenteador por natureza. Não teve quem não ganhasse regalo de sustância no final desta viagem. Até dona Célia, mulher de seu Zuca, o nosso jardineiro, colocou no pulso delicado relógio russo. A mim, além de um relógio, coube um rádio, que, segundo papai, era espetacular. Talvez ele se comportasse bem no frio do Norte, na Sibéria... mas aqui nos trópicos perdeu a voz, danou a engasgar, uma estática absurda, não importava se em ondas médias, longas ou curtas. Eu reclamei, mas não houve jeito, o bicho teimava em ser péssimo.
Voltando ao início da história, papai sugeriu... Não, não sugeriu, mandou! E eu emprestei o rádio, dizendo a Caymmi que era excelente, tinha um som límpido e claro, tocava Tchaikovisky, Prokofiev e até Stravinsky, já que era russo. Ele ia se divertir muito. Na verdade nos divertimos todos, pois ao ouvir o esporro medonho que o rádio fez ao ser ligado, Caymmi caiu na gargalhada e começou toda uma história comigo que durou por toda a vida.
-- Que maravilha de som!, ele dizia se fingindo de sério. É o melhor mimo que já ganhei em minha vida!
-- E quem te disse que eu estou dando? Só estou emprestando. E é empréstimo a prazo curto, nada de levar para o Rio com você...
O rádio foi para o Rio com o casal Caymmi, é claro! Quando nos encontrávamos, eu o pedia de volta, ele retrucava que era dele. Chegou a me telefonar do Rio para a Bahia somente para dizer que o rádio tinha melhorado muito, já quase dava para se ouvir alguma coisa.
A última vez que vi Stella e Caymmi, papai já tinha morrido. Fui com mamãe visitá-los no apartamento em Copacabana. Falando pouco, olhar um tanto perdido, como ficara o de papai no fim de sua vida, ainda assim estava alegre, pediu prenda a mamãe. De repente me olhou, riu, e disse:
-- E o rádio russo, Papá?                                                     

Nenhum comentário:

Postar um comentário